quarta-feira, 10 de abril de 2013

Abre aspas: O chato - Martha Medeiros

 Fazia tempo que eu não postava nessa coluna, né?
 Contei pra vocês no último OQVEL que estava lendo Montanha-russa, o livro de crônicas da Martha Medeiros. Então, terminei de ler em poucos dias... O que eu tenho pra contar é que a maioria das crônicas tem uma linguagem muito simples e informal e várias vezes achei que a autora caiu muito pro lado da auto-ajuda que eu, particularmente, acho bastante chato. Por isso eu não gostei de algumas crônicas e não daria cinco estrelas para o livro.
 Mas tem muitas crônicas bonitas, e com algumas eu senti que a autora tinha entrado no meu cérebro, porque me identifiquei muito. Escolher uma para vir mostrar pra vocês foi facílimo, porque eu tenho certeza que a maioria também vai se identificar com essa! Olha só:


O chato
(Montanha russa - Martha Medeiros)

 Outro dia conversava com uma senhora que me falava sobre seu filho de 25 anos. Ela me disse que o filho adora ler. Que lê poesia desde menino. Que conhece a obra e a biografia de grande parte dos escritores gaúchos. Que não errou uma única questão na prova de literatura, quando fez vestibular. Que não consegue pegar no sono sem antes ler ao menos algumas linhas. E aí ela me alertou: "Mas não é chato!".
 E continuou justificando: disse que o filho adorava sair à noite, escutava rock, viajava bastante e tinha a cabeça superboa. Não era chato. Tive que rir. Por que ele seria?
 A gente se apega aos estereótipos e não repara no quando eles podem ser equivocados. Coloque um livro na mão de um rapaz e logo o imaginamos dentro de uma camisa trancafiada até o último botão, óculos fundo de garrafa e o ombro meio curvado. Provavelmente é anti-social, só escuta música barroca e vive citando Platão. Não parece mesmo muito divertido.
 Quem é viciado em leitura também pode gostar muito de fazer musculação, ouvir U2, viajar para a Califórnia, saltar de pára-quedas, trabalhar com fotografia, todas essas coisas empolgantes que parece que só os não-chatos tem acesso, como se os chatos pudessem ser classificados por seus hobbies.
 O pecado do chato é a oratória. Ele fala muito. Fala sobre os assuntos que não nos interessam em nada. Ou até nos interessam, mas não naquela hora em que você está parado no meio da chuva enquanto ele te segura pelo braço, ou quando você está atrasado para uma reunião e ele continua falando do furúnculo nojento do tio dele. O chato não tem timing.
 Uma pessoa pode adorar Beatles e ser extremamente agradável contando alguns episódios de sua visita a Liverpool, mas vai ser um chato de ficar tocando Yesterday a noite inteira no violão. Uma pessoa pode adorar culinária e ser extremamente agradável ao falar dos pratos exóticos que experimentou em Cingapura, mas vai ser um chato se ficar dissertando sobre as propriedades malignas de um hambúrguer. E uma pessoa pode detestar ler e ainda assim ser extremamente agradável dançando, conversando sobre informatica, contando duas experiencias com a Power yoga ou lembrando-se do encontro inesperado que teve com a Madonna num elevador em Los Angeles.
 Livro nos dá conhecimento, uma visão mais aberta da vida e nos ensina a escrever melhor. Não nos torna chatos nem nos salva de sê-los. Chato é quem não nos faz rir.

Nem preciso dizer nada, né? Espero que tenham gostado!

Beijo,
Ná Mazzilli

6 comentários:

  1. Não sou muito acostumada a ler cronicas
    mas essa parece ser bastante interessante

    Beijos
    @pocketlibro
    http://pocketlibro.blogspot.com.br

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  2. Adorei! :D
    Acho que chato é quem não tem conteúdo para falar, ou é impertinente, como Martha citou.

    Beijos

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  3. Oi.
    Adorei a crônica.
    Ah, ainda preciso ler alguma obra da Martha Medeiros!
    Beijos.

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  4. Pena que o livro não é bom por completo. Essa crônica é bonita realmente...adorei. Um dia leio uma obra da Martha Medeiros.
    Beijocas!
    Paloma Viricio- Jornalismo na Alma.

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  5. obrigada pela visita,
    achei muito legal o blog, diferente bem cultural
    parabéns
    http://jehbennett.blogspot.com.br/
    bjo

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  6. Oi Ná!
    Livros de crônicas são assim mesmo, algumas a gente ama e outras não consegue ver graça.
    Mas gostei dessa que você postou! Para mim o chato é aquele cara que fica dando palpite na vida dos outros, sabe?

    Beijos,
    Sora - Meu Jardim de Livros

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